Diário acadêmico

Archive for março 2009

Análise do artigo Corrupção e Ignorância: os efeitos negativos dessa combinação no cotidiano do povo brasileiro produzido pelo mestre de sociologia da Universite de Perpignan, França e professor da Faculdade 2 de Julho, Jorge Lisboa de Paula.

Jorge diz que o objetivo de tal artigo é estimular a discussão sobre os prejuízos da nação por não ter uma noção aprofundada sobre cidadania e ética.

 

O Brasil é um dos últimos no Ranking de educação. Numa lista de 129, atinge apenas a 76ª posição (http://www.endividado.com) em uma pesquisa feita em 5/5/2008 da Unesco. Trata-se de uma posição muito incômoda e preocupante se for levado em conta que para se conscientizar, antes de tudo a pessoa precisa se informar. E como ter acesso à informação sem as ferramentas necessárias para absorver e entender a real gravidade dos fatos? Esse tipo de entendimento e conscientização, na minha opinião, somente pode ser adquirido por uma educação de qualidade, não só nas escolas, mas também dentro de casa.

 

 Moral e Cívica

Em um tempo, não muito distante, a educação moral era mais valorizada. As escolas tinham em sua grade curricular uma disciplina chamada Moral e Cívica, o próprio nome já nos diz o que era ensinado. As crianças entendiam os pais sem que fosse pronunciada uma só palavra, o olhar dizia tudo. Não penso que isso seja uma forma de repressão, como muitos devem estar pensando. Era respeito.

 

Imaginem o espanto de nossos avós se tivessem que freqüentar nossas escolas! Não é novidade para ninguém a presença de policiais nas portas de instituições de ensino para garantir a segurança de alunos e professores. Sim, porque o que parecia surreal na época de nossos avós hoje em dia é mais que comum. Professores são agredidos física e psicologicamente por seus alunos. Difícil acreditar que houve um tempo em que eram autoridade máxima na sala de aula, com o apoio inclusive dos pais. Parece-me que havia uma parceria entre escola e família para a construção de cidadãos.

 

A questão é que o fato vem se transformando numa bola de neve. Ninguém quer se responsabilizar pela educação de nossas crianças, as instituições acham que isso é obrigação dos pais, enquanto esses, já prejudicados pelo mesmo descaso se isentam de tal tarefa.

 

É mais fácil delegar essa tarefa aos professores, babás ou quem quer que seja. Os pais contemporâneos são muito ocupados com o acúmulo de funções no trabalho. Eles se defendem dizendo que é para dar uma vida melhor para os filhos, mas isso também é questionável. Será melhor ter uma boa soma em dinheiro no banco do que a presença ativa dos pais, amando, apoiando e educando de perto? Cada um tem sua opinião.

 

 Políticos e política

Existe também o outro lado dessa questão, os políticos. Nossos políticos, corruptos em sua maioria, sem querer generalizar, desde muito tempo estão acostumados a direcionar o povo para onde querem.

 

Quando era o voto de cabresto usavam de persuasão agressiva para impor ao povo certo candidato. Pelo menos dessa maneira era mais fácil saber quem eram os bandidos. Agora que conquistamos a tão sonhada democracia, que nos obriga a ir para as urnas, perdemos de vista os verdadeiros vilões.

 

Nossos políticos usam os mais inusitados recursos para enganar. Desde a compra de votos, ou melhor, a troca por coisas práticas como tijolos, areia, ou cestas básicas, para atender à necessidade imediata de um povo carente que não tem instrução, informação, ou noção de como julgar certos valores morais, até o uso de recursos como photoshop e maquiagem, na intenção de tornar apresentável uma imagem que não se apresenta a ninguém.

 

Se nosso povo conseguisse enxergar o que está nos bastidores desse espetáculo, se tivesse interesse em fazer valer seus direitos; saberia que se o político tivesse cumprindo suas promessas ambiciosas e às vezes mirabolantes, ou mesmo fazendo suas obrigações básicas como representante do povo, certamente moradia e comida não seriam problemas tão comuns por aqui.

 

 Comunicação pelo social

Outro ponto interessante abordado no texto é o papel do comunicador nesse processo. Todos sabemos a enorme influência que a mídia exerce na população, que absorve facilmente jargões, modismos, tendências e idéias. Mas também não é novidade que a imprensa, que poderia ser instrumento de conscientização popular, é muito mais usada para manter o povo ignorante. Exibem programas para distrair nossos cidadãos, afastá-los da realidade e mantê-los no papel de consumidores, entupindo as telas com comerciais e programas pouco relevantes.

 

Exploram as desgraças da sociedade em busca de audiência. Maquiam a gravidade de certos fatos que são transmitidos nos jornais com palavras difíceis com as quais o povo não tem a menor intimidade.

 

Tudo isso nos mostra que podemos sim ajudar a melhorar esse nosso país fazendo o que melhor sabemos, comunicar, informar e ser honestos ao desempenhar esse papel. Porém uma coisa não pode ser ignorada, a grande questão inicial. Sem educação de qualidade torna-se, no mínimo, muito difícil abrir os olhos do Brasil para essa realidade.

Playstation, sonho de consumo entre crianças e adolescentes

 

Célia Martins da Mota Fonseca

 

O objetivo deste trabalho é analisar as relações estabelecidas entre os usuários do videogame Playstation através das teorias contidas no livro “Consumidores e Cidadãos” escrito por Nestor García Canclini.

 

O Playstation é um videogame lançado pela indústria Sony no Japão em três de dezembro de 1994, com o objetivo de desenvolver o sistema de CD e se tornar competitivo, a fim de ocupar posição de destaque no mercado de videogames. O projeto foi um sucesso e superou a Nintendo que era líder nesse segmento. Devido à grande aceitação do público, o videogame passou por vários aperfeiçoamentos e foram criadas várias versões, sendo o Playstation III o último da série.

 

O consumo desse produto seduz principalmente crianças e adolescentes, que chegam a ficar 12 horas na frente da televisão entretidas com os jogos, preterindo programas como teatro, cinema etc. É diversão fácil que garante interatividade entre os participantes através da internet dentro de casa, longe dos perigos e desconfortos da cidade, onde existe o risco de assaltos e trânsito congestionado, entre outros. Canclini afirma que tais entraves, juntamente com a fidelidade em relação ao grupo (enfatizado no livro com relação aos contextos familiares, de bairro e de trabalho, como reguladores do desvio nos gostos e nos gastos, mas que trago ao texto para evidenciar também a fidelidade dos jogadores em relação ao Playstation), são os principais motivos que afastam as pessoas desses espaços públicos. Os consumidores de Palystation dão preferência a lugares como Lan Houses e Cyber Cafés, onde podem ter acesso fácil aos jogos, assim como interagir e jogar on line com outros freqüentadores.

 

CANCLINI

 

O autor menciona que o consumo promove exclusão. Nesse sentido vale lembrar que o Playstation é um aparelho caro, acessível somente a quem tem poder aquisitivo alto. Segundo dados retirados do site www.mercadolivre.com.br no dia sete de novembro de 2008, o preço está entre R$100,00 (a primeira versão, usada porque já saiu de linha) e R$1.739 (Playstation III), sendo que até mesmo os jogos são inacessíveis por menos de R$39,00.

 

Também no âmbito do consumo de jogos para Playstation II, existe falsificação de CDs, ou seja, a produção de CDs piratas, o que caracteriza comércio informal desses produtos, criando condições propícias às pessoas que não possuem capital para pagar R$150 por um lançamento, adquirindo esses games por R$10.

 

A maioria das crianças e adolescentes de todas as classes sociais sabe o valor sociocultural desse videogame, pois ele é o sonho de consumo entre eles. Quem possui um Playstation (de preferência o último lançamento) pertence a um seleto grupo composto por alguns privilegiados, por isso ele é usado como instrumento de diferenciação que segundo Canclini, não faria nenhum sentido caso o seu valor só fosse compreendido pela elite que o utiliza.

 

Existe uma grande diversidade de jogos compatíveis com o aparelho, que estão à disposição do usuário e isso confere ao produto uma ampla abrangência de público. O Playstation, apesar de ser uma produção japonesa, já se disseminou por vários países, ou seja, é desterritorializado (outro termo citado no livro “Consumidores e Cidadãos”), deixou o seu padrão japonês para se tornar mundial, atingindo consumidores das mais diversas raças, cores, idiomas e idades, adequando-se ao perfil de cada país no que diz respeito à linguagem e gosto específico, por exemplo, o jogo mais vendido nos EUA não é o mesmo na Europa, ou no Japão etc.

 

“O consumo é visto não como uma mera possessão individual de objetos isolados, mas como apropriação coletiva, em relações de solidariedade e distinção com outros, de bens que proporcionam satisfações biológicas e simbólicas, que servem para enviar e receber mensagens”.

(Consumidores e cidadãos, pág.70).

Essa citação de Canclini serve para refletirmos sobre os motivos que levam os consumidores desses games a afirmarem sua posição social privilegiada através desse bem simbólico. As pessoas que compõem esses grupos (segundo a visão socioantropológica) não o fazem apenas por satisfação de necessidades, ou entretenimento, elas se apropriam do Playstation como objeto de distinção segundo “a lógica de escassez desse produto e a impossibilidade que outros o adquiram”. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o consumo é muito mais do que um ato banal de compulsão ou alienação, trata-se de uma ação calculada, tendo em vista propósitos específicos de acordo com a necessidade de cada um.

 

INTERATIVIDADE

 

Os blogs, comunidades no orkut (site de relacionamento) e eventos direcionados aos consumidores desse aparelho proporcionam a inserção dos indivíduos em um grupo de prestígio, que é dividido em vários subgrupos.

 

Nas comunidades do Playstation existentes no orkut as pessoas divulgam novos jogos, fazem enquetes a fim de apurar os mais consumidos, trocam informações, compram e vendem seus aparelhos usados, dão dicas e esclarecem dúvidas. Algumas vezes os membros dessas comunidades se adicionam no MSN, podendo dessa forma trocar mensagens em tempo real.

 

Quem tem um Playstation III, além de assistir a DVDs em alta definição pelo sistema blu-ray, pode jogar on-line com outros usuários, dessa forma, assim como no MSN, podem estabelecer laços de amizade, caracterizando um novo modo de interagir. Os jogadores se inserem em pequenos grupos que são diferenciados dos outros pela preferência por alguns jogos específicos, como o Fifa, por exemplo. Tais grupos também surgem nas escolas e são formados pelos adolescentes que possuem o aparelho.

 

Segundo Canclini, nesse sentido, o consumo aproxima essas pessoas, formando uma rede de integração onde os componentes se unem pela afinidade em relação a determinados produtos, nesse caso, o Playstation.

 

VIOLÊNCIA NOS GAMES

Alguns jogos como Counter strike (CS), Doom e GTA foram embargados pela justiça no Brasil. O juiz Carlos Alberto de Tomaz, (17º vara da sessão judiciária de Minas Gerais) responsável pela proibição e recolhimento desses jogos em locais públicos,declara em matéria publicada no site www.folhaonline.com.br que os jogos incitam a insubordinação da ordem social. O certo é que esses games, entre outros, se mostraram perigosos quando utilizados por crianças e adolescentes, na opinião de vários estudiosos.

 

O GTA (Grand Theft auto, ou grande roubo de carros), por exemplo, simula a violência das ruas em situações onde o jogador ganha pontos roubando carros, pichando muros e matando componentes das gangs rivais, além de fugir da polícia. Um jogo como esse exerce uma influência negativa nos adolescentes, pois estimula o comportamento agressivo desses jogadores que por serem jovens sofrem crises de identidade e instabilidade emocional, comum à idade, pois ainda estão em processo de formação. Eles passam cada vez mais tempo em função dos aparelhos, que algumas vezes se transformam em verdadeira obsessão.

 

Uma pesquisa realizada por um grupo de estudos na “Universidade da Carolina do Norte” apontou que a exposição desses jovens aos jogos violentos causa danos as suas funções cerebrais e comportamento tornando-os insensíveis às manifestações de violência fora dos videogames (informação obtida no site www. acores.com/a/video_jogos.html).

 

Em alguns casos esses usuários transcendem o mundo virtual dos jogos chegando até mesmo a se identificarem com certos grupos (gangs, no caso do GTA) na maneira de se vestir, linguagem e postura social.

 

 BABÁS ELETRÔNICAS

 Qual seria o real motivo dessa mudança de comportamento do jovem contemporâneo? Para tentar responder a essa pergunta, devo me reportar ao livro “Teorias da Globalização” que levanta a importância do tempo e do espaço nesse processo acelerado de capitalização, ou seja, a sociedade incorpora o sentido da frase time is money, agregando cada vez mais tarefas ao cotidiano, nesse sentido os avanços tecnológicos possibilitam a invasão dos espaços familiares por assuntos de trabalho, através de celulares, internet etc. Resumindo, o espaço familiar, que antes era usado para a interatividade entre as pessoas da família, se reduziu consideravelmente.

Aparelhos tecnológicos como televisão, computador e videogame não se restringem somente a espaços de entretenimento, mas também desempenham o papel de babás eletrônicas, informando, distraindo e até educando crianças e adolescentes, cujos pais, muito ocupados com o trabalho, delegam essas funções a pessoas que às vezes não são as mais apropriadas.

 

Do outro lado dessa discussão, estão os que afirmam não ser de responsabilidade dos jogos as tendências à violência e o descontrole emocional demonstrados pelos jovens, e sim de todo um contexto familiar e social.

 

 QUEM DEFENDE OS JOGOS VIOLENTOS?

Segundo dados retirados do site www.continue.com.br , o produtor da série de jogos “Metal Gear” (espionagem com ação), Hideo Kojima, afirma que sua intenção é fazer o jogador refletir sobre o real significado da violência. Kojima diz que tem trabalhado na fidelidade das expressões de dor, desfigurando os rostos, para que o indivíduo entenda o que está fazendo e aprenda a se responsabilizar pelas suas ações. Algumas pessoas que tiveram a oportunidade de jogar Metal Gear III, defendem a capacidade de Hideo Kojima em despertar o sentimento de culpa nos jogadores.

 

O jornalista e especialista em cultura pop, Gerard Jones defende em seu livro, “Brincando de Matar Monstros”, uma necessidade entre as crianças e adolescentes, da violência no âmbito da fantasia, de forma lúdica, para liberar tensões e combater medos. Gerard defende a presença de games violentos nessa faixa etária. Através de discussões com adultos envolvidos nesse tema e usuários desses tipos de jogos, Jones concluiu que a ausência deles pode contribuir para o aparecimento da violência na vida real (informações obtidas no site www.entrelinhas.unisinos.br). Trata-se de uma discussão polêmica, onde especialistas e leigos manifestam pontos de vista diferentes.

 

Os jogos tornam-se cada vez mais sofisticados, pois se renovam todos os anos conquistando cada vez mais consumidores além de manter fiéis os que já possuem. O Fifa, por exemplo, (simula jogo de futebol) lança novidades periodicamente, com definições de imagens cada vez mais fiéis à realidade, tal fidelidade não se restringe apenas à forma física dos jogadores, mas também na reprodução de características específicas de cada um no estilo de jogar, nos trejeitos etc.

 

O Flight Simulator (simulador de vôo) teve seu último lançamento em 2002, pois na ocasião do ataque de terrorismo às Torres Gêmeas, (11 de setembro, nos EUA), os jornais divulgaram que os suicidas fizeram todo o treinamento através desse jogo, que possui todos os componentes de um avião de verdade, simulando até mesmo as horas de vôo. Nesse sentido tornam-se evidentes as facilidades que os avanços tecnológicos proporcionam ao possibilitarem o acesso de informações que só deveriam ser disponibilizadas aos profissionais de determinadas áreas (aviação, nesse caso).

 

Mesmo entre os jogadores de Playstation não se pode definir uma homogeneidade, pois existem vários jogos de estilos diferentes, o que dá ao consumidor um leque de opções e acaba diferenciando-o dos outros pelas escolhas. Tal teoria também é defendida por Canclini, pois ele afirma que “o consumo não causa a homogeneização da sociedade”.

 

Uma característica marcante no caso do Playstation é a rapidez que os aparelhos e jogos tornam-se obsoletos, o que talvez se justifique pela constante busca dos consumidores de componentes eletrônicos por novidades.

 

ANÁLISE

Estudando o consumo do Playstation, conclui-se que existe no âmbito das relações entre as pessoas que se identificam com esse aparelho, uma rede de integração à parte.

Através das teorias de Canclini podemos avaliar todos os significados que envolvem as atitudes, intenções e necessidades que levam os indivíduos a se afirmarem como cidadãos através de sua condição de consumidor.

Quando um sujeito adquire um Playstation, não está comprando somente um aparelho de entretenimento, mas também prestígio, interatividade, diferenciação social, inserção em grupos diferenciados e status, além de muita diversão, é claro.

Nesse sentido torna-se inevitável resgatar uma das idéias centrais de Canclini nesse livro: “O consumo serve para pensar”  

 

 

 

REFERÊNCIAS: 

 

 

 CANCLINI G. Nestor.“Consumidores e Cidadãos”

IANNI Octávio.“Teorias da Globalização”

BARBERO M. Jesús.”Culturas Juvenis no Século XXI-As Mudanças na Percepção da Juventude: sociabilidades, tecnicidades e subjetividades entre os jovens”.

CASTRO D.V. Carlos – “Nova Geração de Videogames: verdadeiras centrais de entretenimento digital” (Monografia).

 

 

 

 

 

COMENTÁRIO

 

 

João Moreira Sales; Kátia Laura Sales, vídeo documentário, 1998.

 

Morro Dona Marta

Através do cotidiano dos moradores do morro Dona Marta o documentário mostra a situação de violência nos morros do Rio de Janeiro. A narrativa inicial do vídeo afirma que a expansão do tráfico de drogas é diretamente responsável pelo crescimento assustador do número de homicídios, e as imagens mostram o destino dado às drogas apreendidas.

 

As fortes declarações feitas tanto pelos moradores, quanto por policiais, traficantes e crianças que aspiram entrar para a vida do crime – “O Movimento” – chamam a atenção pela naturalidade que relatam fatos de extrema crueldade e violência que presenciam quase todos os dias.

Motivos

Adriano, 29 anos afirma que rouba para alimentar a família, não tem intenção de praticar nenhum tipo de maldade com as pessoas. Quer viver normalmente como qualquer cidadão. Tal observação é natural entre os garotos do morro.

 

Enquanto num emprego comum o adolescente recebe R$112,00 por mês, no tráfico essa quantia sobe vertiginosamente para R$300,00 por semana. Até mesmo o policial acha que é bom negócio.

 

A polícia Federal estima que o tráfico de drogas emprega cerca de 100.000 pessoas no Rio, ou seja, o mesmo número de funcionários da prefeitura. Isso faz com que as pessoas tratem o tráfico como uma empresa que oferece emprego bem remunerado e proporciona inclusive plano de carreira. Desde criança esses cargos são desejados pelos jovens.

Desemprego e Preconceito

A discriminação também é um ponto forte nessa história. O morador do morro é visto pela sociedade em geral como o possível delinqüente, assim, é negada a ele a mesma oportunidade dos outros. O estigma da pobreza limita, atrasa e às vezes impede o desenvolvimento profissional dessas pessoas.

 

Por um outro lado tem a situação do próprio país, onde o índice de desemprego é alto e a qualidade de mão de obra ainda deixa a desejar. Nossos representantes políticos não demonstram interesse em preparar os cidadãos para o mercado de trabalho. Dessa forma, fica praticamente impossível para um adolescente da favela competir por uma vaga em qualquer emprego com remuneração acima de um salário mínimo.

 

A guerra

Sobre a própria guerra entre polícia e traficantes o vídeo mostra imagens fortes de confrontos e as armas de que cada lado dispõe. Fica evidente que os traficantes teem acesso às armas mais modernas do mercado, algumas delas não são utilizadas nem mesmo pelo exército.

 

Um adolescente afirma gostar da vida no tráfico, lá ele tem respeito e dinheiro (sic).Diz que quando tem confronto com a polícia e eles conseguem matar algum deles, a comemoração é boa. “É uma vitória, não é para comemorar?”.

 

Percebe-se também um certo prestígio desses adolescentes entre as mulheres. Um dos moradores diz que se não andar armado elas não dão nem papo. “Só o cara armado tem direito as cocotinhas lá de baixo, se não, elas nem olham”.

 

Através das grades o presidiário conta com orgulho os feitos que o levaram para o presídio. Disse que assaltava bancos e gostava disso, e mais, afirmou que uma vez liberto voltaria a praticar crimes “Vai ser muito pior”. O tom agressivo na voz, e o olhar de revolta nos fazem acreditar que realmente está dizendo a verdade.

 

Isso nos leva a pensar se o nosso sistema carcerário realmente funciona. Qual é o objetivo de manter uma pessoa presa numa cadeia brasileira? Punir, humilhar, educar, preparar essas pessoas para voltar a conviver em sociedade? E será que além da humilhação os outros objetivos estão sendo alcançados? Será que nossas cadeias são mesmo “A faculdade de formar bandidos?” Pelo menos o entrevistado nos mostrou que podem sim sair de lá ainda mais cruéis.

 

Policiais e abuso de poder

Uma moradora chamada Hilda descreve sua rotina que começa às 2:30 da manhã, quando se levanta para ir trabalhar como entregadora de jornal, e termina às 22:00 horas, quando vai pra cama exausta depois de preparar o jantar do marido. Trata-se do dia de uma pessoa trabalhadora que luta com dignidade para sobreviver, mas, morador do morro, independente de qualquer coisa, é tratado como bandido.

 

“A polícia adentrava a favela metendo o pé em tudo, invadindo as casas e levando o que quisessem. Não perguntavam se determinado aparelho de televisão tinha nota fiscal ou não, pegava e levava. Agora eles entram com mais cautela. Estão com medo dessa nova geração, porque eles realmente matam”. Janete, moradora do morro Dona Marta.

 

Os relatos mostram uma certa cumplicidade entre os moradores e os traficantes, uma moradora diz recorrer ao “movimento” quando precisa de alguma coisa, pois eles ajudam as pessoas que não teem condições de comprar um remédio, comida e até mesmo cigarro. Uma criança afirmou que entre polícia e bandido, os moradores ficam do lado dos traficantes.

 

Janete diz que o lado ruim das armas é quando os traficantes precisam cobrar alguma coisa, seja de criança ou de adulto, morador do morro ou não, eles usam os mesmos métodos de crueldade, ou seja, matam, trucidam etc…

 

Paulo Lins, escritor conta como começou a história do tráfico, diz que quem praticava eram pessoas idosas, porque não era comum. Cocaína era coisa de rico, favelado não usava cocaína, era só maconha Entre outras coisas afirma que sempre morreu gente na favela, mas não saía daquele espaço. A mídia descobriu a violência quando ela saiu da favela.

Injustiça social

Esse documentário nos alerta para a situação deprimente que está o nosso país. A realidade social, a negligência, a falta de justiça, o comodismo, e tudo o que faz de nós, brasileiros, o que somos diante do resto do mundo. Do “Primeiro Mundo”, que nos vê com o mesmo olhar de preconceito que lançamos sobre as pessoas que moram nas favelas.

Enquanto nas suas casas são perseguidos e ameaçados por policiais e bandidos, também na sociedade, eles sofrem um tipo de massacre, aquele que ignora e transforma uma pessoa comum em um ser invisível. Dessa forma experimentam em vida, o que acredito ser a pior de todas as sensações, a de não existir, ou melhor, de não ser gente.

 

 

 

 

Por: Célia Mota