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Relatório interpretativo produzido para a disciplina Psicologia e Relações Humanas com enfoque na auto observação, tendo como material de apoio as leituras pertinentes, assim como as experiências vividas no contexto acadêmico, correlacionando com cenas e personagens do filme Patch Adams – o amor é contagioso.

A auto- observação é um exercício de extrema importância para a convivência harmoniosa em grupo, pois algumas características pessoais podem se mostrar verdadeiros entraves no que diz respeito à interação com a equipe, enquanto outras podem atrapalhar no quesito confiança.

Caso o indivíduo não se mostre aberto ao diálogo e interessado nas atividades desenvolvidas, participando das ações e auxiliando a equipe, isso pode acarretar em rejeição do grupo em atividades futuras ou mesmo desencadear o comportamento apático da equipe em relação ao sujeito que se mostrou indiferente e desinteressado. E, mesmo que essas características sejam resultado, não propriamente da indiferença e desinteresse do sujeito, mas da timidez e introspecção, certas técnicas devem ser trabalhadas para amenizar os impactos causados por tais atitudes.

Por outro lado, o ambiente em que o grupo está inserido – tanto no que diz respeito ao “clima” entre os participantes, como o ambiente físico mesmo –  desempenha papel fundamental para o bom andamento dos trabalhos. De acordo com Idanez (2004, p.29), algumas condições devem ser observadas para que haja efetividade na solução dos problemas em grupo: 1) Clima grupal favorável; 2) relações interpessoais que favoreçam a comunicação e a confiança, reduzindo a intimidação dos membros do grupo; 3) estabelecimentos de acordos sobre a forma de resolver os problemas; 4) Liberdade para fixar objetivos e tomar decisões; 5) Aprendizagem acerca das formas mais efetivas para a tomada de decisões.

Algumas situações observadas no filme “Patch Adams, o amor é contagioso” (1998) evidenciam tais observações acerca do trabalho em conjunto, já que alguns colegas do personagem principal, Patch Adams, tinham extrema dificuldade no trabalho em grupo – alguns por falta de confiança, outros por arrogância –, no entanto, a convivência com Patch mudou completamente tais características, sua personalidade generosa e sua atitude acessível desenvolveu confiança e admiração aos que estavam a sua volta. E isso os levou a formar uma equipe bastante efetiva na ajuda de pessoas com transtornos psicológicos e outras doenças. Patch Adams contagiou o grupo com seu bom humor e isso possibilitou uma atmosfera de amizade. De acordo com Idanez (2004):

Nos grupos com uma atmosfera calorosa, permissiva, amistosa, democrática, parece haver maior estímulo para trabalhar e maior satisfação, e os indivíduos e o grupo é mais produtivo. Além disso, há menos descontentamento e frustração, menos agressão. Há mais companheirismo, cordialidade, cooperação e “sentimento do nós”. […] o clima de amizade deve ser sincero e autêntico. Deve estar apoiado na profunda convicção do valor de toda pessoa e no respeito honesto aos pontos de vista dos outros.  (p. 33).

No curso de Psicologia há acadêmicos de personalidades semelhantes à do personagem Patch: sempre otimistas, com palavras acolhedoras e acessíveis. Há também alguns que usam de sarcasmo e brincadeiras inapropriadas, para chamar a atenção para si – porque o fato de estar em um curso de psicologia não garante ao sujeito a generosidade e empatia tão necessárias para o desempenho da futura profissão – e há os introspectivos, que se fecham em si mesmos, talvez para sua própria proteção. As aulas de Psicologia e Relações Humanas (PRH) ajudam, com trabalhos específicos de socialização, a decifrar a personalidade de cada um, e com isso elaborar a melhor abordagem. Pois as pessoas sempre dizem do que precisam, basta que se saiba ouvi-las.

Algumas dessas atividades desenvolvidas em sala demonstram a importância do ambiente físico para o bom andamento dos trabalhos. Por exemplo, quando o ar-condicionado está desligado, por algum motivo – alguns professores tem alergia, ou acham que o barulho atrapalha a aula –, e o clima esquenta literalmente, os estudantes ficam impacientes, inquietos e isso desencadeia outros problemas que atrapalham o desenvolvimento dos trabalhos, são eles: desinteresse ao tema abordado e conversas paralelas, que nada acrescentam ao que está em discussão. As cadeiras posicionadas em fila causam entraves às pessoas que ficam atrás (o fundão, como chamam), pois limitam a visibilidade e dificultam ouvir o que está sendo dito na frente. Assim, corre-se o risco de ter a atenção desses indivíduos dispersa pela inadequação do espaço. Sobre isso:

O ambiente físico ou condições materiais nas quais o grupo atua influi positiva ou negativamente na determinação da atmosfera grupal. Esse ambiente é configurado pela iluminação e ventilação, pela disposição das cadeiras e pelo tamanho do local em relação ao número de participantes. (IDANEZ, 2004, p. 31).

Já o clima da turma, no que diz respeito à harmonia nas relações interpessoais, interfere diretamente na resolução dos problemas, pois o clima “pesado” pode causar animosidade entre as pessoas, que se fecham ao diálogo, ou pior, partem para as agressões verbais. A falta de sensibilidade ou clareza de alguns colegas ao abordarem determinados assuntos, que sensibilizam consideravelmente outros colegas, causou o que chamamos de “clima pesado” e a reação foi de defesa e perda de confiança. A distorção da comunicação também pode se dar por efeitos emocionais, ou seja, “quando nos sentimos inseguros, aborrecidos ou receosos, o que ouvimos e vemos parece mais ameaçador do que quando nos sentimos seguros e em paz com o mundo” (Minicucci,1992,p.55).

Moscovici (1997), ressalta a importância de se fazer uma abordagem sensível às necessidades do sujeito observado, quando o objetivo é dar um feedback, mas essa sensibilidade cabe a todos os tipos de abordagens. No filme, o clima pesado e a importância da abordagem sensível se revelavam sempre que os professores flagravam Patch em suas incursões pelo hospital, visitando os doentes, a fim de animá-los com boas risadas.

Para o desenvolvimento de habilidades sociais entre universitários é preciso uma junção de todos os itens citados acima, ou seja: ambiente acolhedor, equipe amistosa, superação de entraves pessoais (timidez, introspecção, autoisolamento, desinteresse etc.), também é necessário o comprometimento do indivíduo em colaborar e garantir o desenvolvimento positivo do grupo em que está inserido. Os autores aqui referenciados diriam ainda que é indispensável certo nível de parceria, confiança e objetivos em comum. E como afirma Barreto (2003, p. 89), “embora caiba ao professor a maior parte da responsabilidade quanto ao relacionamento com os estudantes, as interações humanas são bidirecionais”, o que acarreta responsabilidade também ao estudante em relação ao professor e colegas.

Neste contexto, o feedback é uma ferramenta indispensável ao sujeito que deseja melhorar as relações interpessoais com seus pares, pois contribui para o aperfeiçoamento das inclusões, abordagens e interações em grupo. Todos nós precisamos saber nossos pontos fortes, para potencializá-los, e os fracos, para corrigi-los.

Ainda mais nas relações interpessoais, o feedback com os elementos emocionais pode ser de grande ajuda na resolução de certos problemas. Quando se diz, por exemplo: Aquela sua atitude fez-me sentir em situação desagradável, tal observação pode esclarecer algumas coisas para ambos, sem com isso invalidar as razões do outro, mas indicar “como a ação repercutiu em nós” (MOSCOVICI, 1997).

A importância da universidade na formação dos jovens deve ser levada em consideração, mas também há grande valor no esforço desse jovem acerca da sua construção pessoal. Patch Adams ilustra muito bem esse ponto de vista durante sua trajetória pessoal e acadêmica.

No mundo em que a revolução tecnológica afasta as pessoas fisicamente; em que todos querem falar e poucos sabem ouvir; em que há abundância de conteúdos disponíveis e escassez de calor humano, talvez seja necessário fazer uma pausa, respirar calmamente, olhar quem está a nossa volta e realmente vê-lo (a). É por essa atenção e evidência que a maioria das pessoas anseia, é sobre esse conteúdo que pesquisamos nas redes sociais, queremos saber o que fazem para chamar a atenção, ou para sentirem-se bem. Mas também queremos ser vistos e ouvidos, precisamos nos sentir importantes.

Então, para o sucesso nas relações interpessoais torna-se imperativo ser mais como Patch Adams e menos como as pessoas que o suprimiam e desacreditavam, assim como essas pessoas que nos subestimam ainda hoje, na vida real. Sejamos menos emissores de conteúdos irrelevantes, vamos transmitir o que realmente importa para o nosso receptor, agregar valor às relações sociais.

E se trocássemos a mensagem no WhatsApp por um aperto de mão, os emotions de coraçãozinho por beijos e abraços de verdade e os elogios via Facebook e Instagram pelo velho e bom “olhos nos olhos”? Para isso não é preciso abrir mão das redes sociais ou de qualquer tecnologia, basta apenas estar presente quando se está com o outro. Vê-lo com olhos compreensivos e ouvi-lo com ouvidos receptivos. Isso garante o sucesso de qualquer relação em grupos grandes ou pequenos, dentro e fora das universidades.

 

REFERÊNCIAS

  1. BARRETO, Maria. Dinâmica de grupo: história, prática e vivências. São Paulo: Alínea, 2003.
  2. IDANEZ, Maria José Aguilar. Como animar um grupo. Petrópolis: Vozes, 2004.
  3. MINICUCCI, Agostinho. Relações Humanas: Psicologia das relações interpessoais. São Paulo: Atlas, 1992.
  4. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal, Treinamento em Grupo. José Olympio Editora S.A., RJ, Brasil – 1997.
  5. Filme: Patch Adams: O amor é contagioso. Ano: 1998. Direção: Tom Shadyac

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