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COMENTÁRIO

 

 

João Moreira Sales; Kátia Laura Sales, vídeo documentário, 1998.

 

Morro Dona Marta

Através do cotidiano dos moradores do morro Dona Marta o documentário mostra a situação de violência nos morros do Rio de Janeiro. A narrativa inicial do vídeo afirma que a expansão do tráfico de drogas é diretamente responsável pelo crescimento assustador do número de homicídios, e as imagens mostram o destino dado às drogas apreendidas.

 

As fortes declarações feitas tanto pelos moradores, quanto por policiais, traficantes e crianças que aspiram entrar para a vida do crime – “O Movimento” – chamam a atenção pela naturalidade que relatam fatos de extrema crueldade e violência que presenciam quase todos os dias.

Motivos

Adriano, 29 anos afirma que rouba para alimentar a família, não tem intenção de praticar nenhum tipo de maldade com as pessoas. Quer viver normalmente como qualquer cidadão. Tal observação é natural entre os garotos do morro.

 

Enquanto num emprego comum o adolescente recebe R$112,00 por mês, no tráfico essa quantia sobe vertiginosamente para R$300,00 por semana. Até mesmo o policial acha que é bom negócio.

 

A polícia Federal estima que o tráfico de drogas emprega cerca de 100.000 pessoas no Rio, ou seja, o mesmo número de funcionários da prefeitura. Isso faz com que as pessoas tratem o tráfico como uma empresa que oferece emprego bem remunerado e proporciona inclusive plano de carreira. Desde criança esses cargos são desejados pelos jovens.

Desemprego e Preconceito

A discriminação também é um ponto forte nessa história. O morador do morro é visto pela sociedade em geral como o possível delinqüente, assim, é negada a ele a mesma oportunidade dos outros. O estigma da pobreza limita, atrasa e às vezes impede o desenvolvimento profissional dessas pessoas.

 

Por um outro lado tem a situação do próprio país, onde o índice de desemprego é alto e a qualidade de mão de obra ainda deixa a desejar. Nossos representantes políticos não demonstram interesse em preparar os cidadãos para o mercado de trabalho. Dessa forma, fica praticamente impossível para um adolescente da favela competir por uma vaga em qualquer emprego com remuneração acima de um salário mínimo.

 

A guerra

Sobre a própria guerra entre polícia e traficantes o vídeo mostra imagens fortes de confrontos e as armas de que cada lado dispõe. Fica evidente que os traficantes teem acesso às armas mais modernas do mercado, algumas delas não são utilizadas nem mesmo pelo exército.

 

Um adolescente afirma gostar da vida no tráfico, lá ele tem respeito e dinheiro (sic).Diz que quando tem confronto com a polícia e eles conseguem matar algum deles, a comemoração é boa. “É uma vitória, não é para comemorar?”.

 

Percebe-se também um certo prestígio desses adolescentes entre as mulheres. Um dos moradores diz que se não andar armado elas não dão nem papo. “Só o cara armado tem direito as cocotinhas lá de baixo, se não, elas nem olham”.

 

Através das grades o presidiário conta com orgulho os feitos que o levaram para o presídio. Disse que assaltava bancos e gostava disso, e mais, afirmou que uma vez liberto voltaria a praticar crimes “Vai ser muito pior”. O tom agressivo na voz, e o olhar de revolta nos fazem acreditar que realmente está dizendo a verdade.

 

Isso nos leva a pensar se o nosso sistema carcerário realmente funciona. Qual é o objetivo de manter uma pessoa presa numa cadeia brasileira? Punir, humilhar, educar, preparar essas pessoas para voltar a conviver em sociedade? E será que além da humilhação os outros objetivos estão sendo alcançados? Será que nossas cadeias são mesmo “A faculdade de formar bandidos?” Pelo menos o entrevistado nos mostrou que podem sim sair de lá ainda mais cruéis.

 

Policiais e abuso de poder

Uma moradora chamada Hilda descreve sua rotina que começa às 2:30 da manhã, quando se levanta para ir trabalhar como entregadora de jornal, e termina às 22:00 horas, quando vai pra cama exausta depois de preparar o jantar do marido. Trata-se do dia de uma pessoa trabalhadora que luta com dignidade para sobreviver, mas, morador do morro, independente de qualquer coisa, é tratado como bandido.

 

“A polícia adentrava a favela metendo o pé em tudo, invadindo as casas e levando o que quisessem. Não perguntavam se determinado aparelho de televisão tinha nota fiscal ou não, pegava e levava. Agora eles entram com mais cautela. Estão com medo dessa nova geração, porque eles realmente matam”. Janete, moradora do morro Dona Marta.

 

Os relatos mostram uma certa cumplicidade entre os moradores e os traficantes, uma moradora diz recorrer ao “movimento” quando precisa de alguma coisa, pois eles ajudam as pessoas que não teem condições de comprar um remédio, comida e até mesmo cigarro. Uma criança afirmou que entre polícia e bandido, os moradores ficam do lado dos traficantes.

 

Janete diz que o lado ruim das armas é quando os traficantes precisam cobrar alguma coisa, seja de criança ou de adulto, morador do morro ou não, eles usam os mesmos métodos de crueldade, ou seja, matam, trucidam etc…

 

Paulo Lins, escritor conta como começou a história do tráfico, diz que quem praticava eram pessoas idosas, porque não era comum. Cocaína era coisa de rico, favelado não usava cocaína, era só maconha Entre outras coisas afirma que sempre morreu gente na favela, mas não saía daquele espaço. A mídia descobriu a violência quando ela saiu da favela.

Injustiça social

Esse documentário nos alerta para a situação deprimente que está o nosso país. A realidade social, a negligência, a falta de justiça, o comodismo, e tudo o que faz de nós, brasileiros, o que somos diante do resto do mundo. Do “Primeiro Mundo”, que nos vê com o mesmo olhar de preconceito que lançamos sobre as pessoas que moram nas favelas.

Enquanto nas suas casas são perseguidos e ameaçados por policiais e bandidos, também na sociedade, eles sofrem um tipo de massacre, aquele que ignora e transforma uma pessoa comum em um ser invisível. Dessa forma experimentam em vida, o que acredito ser a pior de todas as sensações, a de não existir, ou melhor, de não ser gente.

 

 

 

 

Por: Célia Mota

 

 

 

 

 

 

 

 


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