Diário acadêmico

Ontem à noite, ao sair do prédio onde moro, vi um garoto remexer o lixo a procura de comida.

 Aquela imagem entrou pelos meus olhos e se instalou na memória feito flash back de um tempo que eu não quero lembrar, de uma vida que não era minha.

 A criatura se misturava aos dejetos de tal forma que era difícil distinguir o que era gente do que era lixo… Quem sou eu de quem é o menino. O que é o Brasil do que é a miséria…

E até onde vai nossa impotência? Virei o rosto, preferi não encarar.

 Visto de fora parece covardia, omissão e às vezes me pego pensando nisso.

Quero ajudar a quem precisa, mas isso é reviver situações e ressuscitar lembranças que há muito enterrei e prefiro que permaneçam mortas.

Recordações que destroem meu ego, rasgam minha alma e apavoram.

Ainda não descobri um remédio para essa dor, que de tão forte chega a ser física e, por isso, convivo com a culpa e a covardia.