Diário acadêmico

O tempo muda tudo

Posted on: 12/10/2009

pedofilia

Já me acostumei com as reuniões de família nas quais todos se juntam na casa de alguém para um bate-papo. Em dias assim é comum ouvir histórias do passado. Tem sempre um melancólico que gostaria de voltar aos velhos tempos, quando “tudo era mais fácil”- a tia solteirona é campeã no quesito melancolia. Mas, será que realmente era?

Inconformada por não arranjar casamento, a tia sempre recorda a época em que essa tarefa cabia aos pais. Dia desses contou o caso de como seus avós haviam se conhecido, casado e vivido uma vida feliz (?). Não é uma história romântica como se imagina quando o assunto é casamento duradouro.

Ele tinha uma fazenda ao lado do pequeno sítio onde ela morava com os pais. Um dia viu a menina brincando de bonecas no quintal, linda como um anjo! Ele era viúvo e de boa situação financeira, então resolveu pedir a mão dela aos pais. Eles concederam de imediato porque viram no pedido a grande oportunidade de melhorar a vida da menina – na concepção de vida melhor deles.

Nem o fato de ela ter 12 anos e ele 25 a mais,  os impediram de realizar o matrimônio.

A garota inexperiente trocou as brincadeiras por panelas, as bonecas por bebês de verdade, e os sonhos por realidade. Descobriu cedo as coisas da vida, assim reprimir os desejos e esconder as frustrações.

 Foi obrigada a deixar as birras de filha e aprender sozinha a ser mãe. E foi impecável para seus dez rebentos, todos homens.

Acho tão triste, deprimente submeter uma criança a tanta violência e privação. Às vezes, preferia duvidar da veracidade de tudo. Será que a tia não estava aumentando essa história só para dar mais emoção? Não acho que tenha mentido, talvez exagerado um pouco. Com exagero ou não, essa prática deixou de ser legal no Brasil há muito tempo, graças a Deus.

 Lembrar desse caso apertava meu coração.

Mas,  nesse sábado de manhã, antes de ir para o trabalho, liguei o rádio e ouvi a seguinte notícia “Roman Polanski, 77 anos, diretor de cinema conceituado, é preso na Suíça a pedido dos Estados Unidos e será extraditado. Polanski foi condenado por manter relações sexuais com uma menina de 13 anos, em 1976, e havia fugido antes da anunciação da sentença”.

 Fiquei triste por mais essa criança, mas feliz em perceber que havia punição para essa monstruosidade, mesmo depois de tantos anos.

Lembrei dele e daquele filme: “Lua de Fel”, sobre um relacionamento doentio entre um senhor e uma mocinha – dos dirigidos por ele foi o único que assisti. Confesso que achei o roteiro “meio doido”.

Fui para o trabalho convencida de que as coisas mudam constantemente e que o avô de minha tia foi o precursor em uma prática que hoje tem nome e punição.  Ele era pedófilo. Antes mesmo de podofilia ter essa denominação e ser crime hediondo, em uma época em que brutalizar crianças era apenas parte dos costumes e tinha o concentimento dos próprios pais.  

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